Você está aqui: Página Inicial > Notícias > Palestra sobre surdocegueira promovida pela Univasf mobilizou a comunidade na manhã de ontem (31)

Notícias

Palestra sobre surdocegueira promovida pela Univasf mobilizou a comunidade na manhã de ontem (31)

publicado: 01/08/2017 16h20 última modificação: 03/08/2017 09h53
João Pedro Ramalho
Exibir carrossel de imagens Juciane Aleixo Carlos Alberto Santana Junior ministrou a palestra “Gente surda... Gente cega... Gente surdocega... Gente!”

Carlos Alberto Santana Junior ministrou a palestra “Gente surda... Gente cega... Gente surdocega... Gente!”

Todas as cadeiras do auditório encontravam-se ocupadas, a ponto de ser preciso providenciar mais assentos, mas, ainda assim, havia pessoas em pé. A plateia passou a maior parte do tempo em silêncio, que somente era quebrado por alguns risos provocados por frases bem-humoradas. A atenção à apresentação ministrada mostrava o interesse geral: compreender como é a vida do palestrante Carlos Alberto Santana Junior, que é surdocego, bem como os recursos utilizados na promoção de sua inclusão social. Assim foi a palestra “Gente surda... Gente cega... Gente surdocega... Gente!”, que aconteceu na manhã de ontem (31), no auditório da biblioteca do Campus Sede da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina (PE).

Durante a palestra, Carlos Alberto contou sobre sua infância, adolescência e vida adulta, sua experiência profissional como técnico em massoterapia e, principalmente, as formas que encontrou para estar incluído na sociedade. Para se comunicar, o palestrante usa a Língua Brasileira de Sinais (Libras), aprendida quando criança, assim como Libras tátil, comunicação háptica, braile, entre outras formas baseadas no tato. Já sua mobilidade é possibilitada pelo uso de uma bengala com ponta vermelha, indicativa da surdocegueira, além de placas com pedidos de orientação.

Carlos Alberto nasceu surdo e começou a perceber a perda da visão aos 7 anos. Foi diagnosticado com síndrome de Usher, doença degenerativa que provoca surdez e perda progressiva da visão. Essa é apenas uma das formas de manifestação da surdocegueira, que é compreendida como uma deficiência única, uma associação entre cegueira e surdez que pode ser desenvolvida de diferentes maneiras (congênita ou adquirida) e em graus variados, nem sempre havendo a perda total da visão e da audição.

As primeiras palestras de Carlos Alberto foram realizadas em 2011. Ele afirmou que, inicialmente, encontrou dificuldades para se apresentar em público, mas com a ajuda de seu guia-intérprete, Hélio Fonseca, pôde melhorar sua desenvoltura. “Nós fomos treinando ali juntos, começamos a ir a outros lugares e começamos de fato a motivar as pessoas. As pessoas começaram a me dar esse feedback, que estavam gostando. E eu gosto muito de motivar as pessoas, eu gosto muito de falar de superação, acho que isso é muito importante, falar sobre surdocego e falar sobre superação”, contou Carlos Alberto, traduzido pelo guia-intérprete.

Maria Helena Soares de Oliveira tem deficiência auditiva, assim como boa parte do público presente na palestra. Ela é presidente da Associação dos Surdos de Petrolina (ASP) e relatou que essa é a primeira experiência da ASP em relação à surdocegueira. Ainda assim, já será importante para os próximos passos da instituição. “Nós temos dois irmãos surdos que estão perdendo a visão e estão em contato com a associação. Precisamos trabalhar juntamente com eles para incentivar e ver como vai acontecer esse processo de adaptação”, contou Maria Helena, em tradução realizada pela professora do Colegiado de Ciências Sociais da Univasf, Maria Nacelha Oliveira.

A palestra foi promovida pelo Núcleo de Práticas Sociais Inclusivas (NPSI) da Univasf. Para a professora do Colegiado de Psicologia e coordenadora do NPSI, Karla Daniele Maciel, o evento foi importante por provocar uma reflexão no público, o que já é um passo necessário para promoção da acessibilidade. “Quando você tem um contato direto com uma pessoa que tem a deficiência e você pode ouvir dela, não alguém falando por ela, como ela existe, isso lhe faz pensar. E isso já é pra gente meio caminho andado”, afirmou Karla Daniele.