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A Estrutura do Gesto
Na fotografia, o gesto miúdo do dedo no botão da máquina fotográfica é apenas a parte final do dispositivo que captura a imagem. O gesto é, por sua vez, a condensação de vários movimentos corporais e mentais, como um feito retido e fisgado no ato/ação do registro fotográfico. O gesto possui, em sua arquitetura, aquilo que é do artista e, na fotografia, a conjugação do tempo, a busca pela composição foto-gráfica que incorpore a estrutura remontando paisagens, cenas, imagens, ações, reflexões e pensamentos. O gesto em fotografia é decisivo, motivo pelo qual temos, na contemporaneidade, muitas fotografias, como também, desejo pelas mesmas.
Segundo Vilém Flusser:
Em fotografia, não pode haver ingenuidade. Nem mesmo turistas ou crianças fotografam ingenuamente. Agem conceitualmente, porque tecnicamente, toda intenção estética, política ou epistemológica deve, necessariamente, passar pelo crivo da conceituação, antes de resultar em imagem. O aparelho foi programado para isto. Fotografias são imagens de conceitos, são conceitos transcodificados em cenas.[1]"
O fotógrafo contemporâneo é aquele que reflete a obra de arte do seu tempo, cuja capacidade de diálogos e semelhanças inverificáveis aproxima públicos diversificados, contextos sociais e econômicos distintos que, democraticamente, convidam para o debate diante da imagem.
A DACC/ Univasf acredita nesses conceitos e suas contribuições para o debate da arte na universidade, fato pelo qual, ao reunir o coletivo de fotografias da artista catarinense, Cristina Rosa, percebemos, em sua composição, o conjunto de elementos materiais e imateriais que redimensionam o olhar e o discurso para o gesto fotográfico. O conceito presente em suas capturas é uma cortina a ser desvelada, que carece compreender os títulos empregados, as séries forjadas na intencionalidade de ampliar a compreensão imagem-gesto aos pensamentos capturados no ato do registro fotográfico.
Na exposição "A estrutura do Gesto" tem, em sua dimensão, a transcodificação da imagem elaborada por meio da tríade Gestos-Capturas-Pensamentos que fazem deste conjunto expográfico e proposta curatorial o esforço para problematizarmos as fotografias contemporâneas além do fazer pelo fazer, do fotografar pelo fotografar, do conceituar pelo conceituar. O que se pretende é conceber a fotografia como campo da arte ao considerar suas heranças, técnicas, fundamentações teóricas e estéticas em suas potencialidades artísticas para poéticas do cotidiano.