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Pesquisa inédita da Univasf revela mutação genética relacionada a maior risco de morte por Covid-19 em idosos

publicado: 29/11/2022 12h01 última modificação: 29/11/2022 12h01
Renata Freitas

Uma mutação genética na proteína envolvida no processo de entrada do vírus causador da Covid-19 nas células está relacionada ao aumento do risco de morte em pacientes de idade mais avançada. Esta é a constatação de um estudo inédito realizado pelo Grupo de Pesquisa em Doenças Infecciosas e Negligenciadas (GPDIN) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). O trabalho é resultado da dissertação de mestrado da estudante Clara Caldeira, realizada sob a orientação do professor Rodrigo Feliciano do Carmo, no Programa de Pós-Graduação em Biociências (PPGB) da Univasf.

O estudo foi realizado no Laboratório Multiusuário de Pesquisa (Lamupe) do Hospital Universitário (HU-Univasf) e contou com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco. A pesquisa foi publicada recentemente pela revista Viruses no artigo intitulado "A Polymorphism in the TMPRSS2 Gene Increases the Risk of Death in Older Patients Hospitalized with COVID-19” (Polimorfismo no gene TMPRSS2 aumenta risco de morte em pacientes idosos hospitalizados com Covid-19).

Os pesquisadores demonstraram nesse estudo, pela primeira vez, que pacientes com idade avançada que carregam o genótipo rs2070788 GG, associado à alta expressão da proteína TMPRSS2 em tecido pulmonar, tinham risco maior de morte por Covid-19. A pesquisa analisou 402 pacientes da região de Petrolina, com idade a partir de 18 anos, hospitalizados na UTI do HU-Univasf e no Hospital de Campanha Monte Carmelo, da prefeitura de Petrolina, entre agosto de 2020 e julho de 2021, período em que a variante Gama estava em circulação no Brasil. Todos foram acompanhados pelos pesquisadores desde o início dos sintomas até a alta ou o óbito, o que ocorreu com 61 (15%) deles.

Do total de pacientes, 175 tinham idade a partir de 55 anos. Destes, 136 sobreviveram à doença e 39 foram a óbito. Nesses pacientes que não resistiram os pesquisadores encontraram com maior frequência a mutação rs2070788 GG, associada a uma maior expressão da proteína TMPRSS2, que poderia facilitar a entrada do SARS-CoV-2 na célula hospedeira. O professor Rodrigo Feliciano explica que os indivíduos com o genótipo GG tiveram uma evolução mais rápida da doença e faleceram num tempo médio de 28 dias, enquanto pessoas com os genótipos AG foram a óbito com 36 dias e as que apresentavam genótipo AA com 48 dias. Dos 39 pacientes que morreram 28% tinham genótipo GG. No grupo que sobreviveu, apenas 11% apresentavam essa mutação. “O risco de morte é quatro vezes maior para o indivíduo que carrega a mutação GG”, afirma o pesquisador.

Também foi identificada a presença de comorbidades associadas ao aumento do risco de morte nos indivíduos com a mutação. “Eles apresentavam doença cardíaca crônica, doença renal crônica e obesidade, fatores que por si só já aumentam muito o risco para complicações e morbidade entre os indivíduos acometidos pela Covid-19”, observa. O professor ressalta ainda que a proteína TMPRSS2 também está relacionada ao sistema renina-angiotensina, que protege o pulmão e o coração da ação do vírus SARS-CoV-2. A mutação torna essas pessoas mais suscetíveis a desenvolver formas graves da doença.

A descoberta, que também contou com a colaboração de pesquisadores do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), possibilita novas frentes de pesquisa na área a serem desenvolvidas a partir de agora, expandindo a população estudada, incluindo pacientes com outros perfis, entre outros aspectos.

Este estudo mais recente está relacionado a outra pesquisa, também realizada pelos pesquisadores do GPDIN no âmbito do PPGB. O trabalho “Association of polymorphisms in long pentraxin 3 and its plasma levels with COVID‑19 severity” (Associação de polimorfismos na pentraxina 3 longa e seus níveis plasmáticos com a gravidade da Covid-19) foi elaborado durante o mestrado pela estudante Thiala Alves Feitosa, sob a orientação do professor Rodrigo Feliciano. O estudo foi publicado em 31 de outubro na revista Clinical and Experimental Medicine.

O trabalho estudou a PTX3, uma proteína que atua no reconhecimento de alguns vírus no organismo como citomegalovírus, influenza e SARS-CoV-2, como um marcador genético e sorológico associado à Covid-19 grave. Desta forma, o PTX3 pode passar a ser utilizado como um biomarcador para auxiliar a identificação de possíveis casos graves da doença. Desenvolvido no Lamupe do HU-Univasf, com financiamento da Facepe através do edital Inova-CPqAM e da Capes, o trabalho de Thiala pesquisou 496 pacientes internados no HU-Univasf e no Hospital de Campanha da prefeitura de Petrolina, entre agosto de 2020 e julho de 2021.

Os resultados da pesquisa demonstraram um efeito protetor do genótipo PTX3 AA no desenvolvimento de formas graves de Covid-19. Já os níveis plasmáticos de PTX3 foram associados à gravidade da doença nos pacientes estudados. Rodrigo Feliciano esclarece que o estudo abre novos caminhos para a elucidação de mecanismos envolvidos na imunopatologia da Covid-19.