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Univasf realiza formatura antecipada de mais 23 estudantes de Medicina; solenidade aconteceu no último dia (30) por videoconferência

publicado: 22/05/2020 21h29 última modificação: 22/05/2020 21h29

A Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) celebrou no último dia (30), a formatura antecipada da primeira turma de Medicina do campus de Paulo Afonso (BA). A colação de grau foi oficializada em solenidade por videoconferência, às 9h, para 23 estudantes que decidiram conjuntamente com a Pró-reitoria de Ensino (Proen) e a coordenação do respectivo Colegiado Acadêmico pela antecipação da graduação em aproximadamente um semestre.

Medida similar foi adotada pela primeira vez na Univasf no último dia 24, quando foram graduados 32 estudantes do campus de Petrolina (PE). A iniciativa é parte das estratégias adotadas pela universidade para o enfrentamento à pandemia Covid-19, e respaldada em ato do Ministério da Educação (MEC), que autoriza a outorga, desde que cumprido o percentual mínimo de 75% da carga horária do estágio obrigatório, o internato médico.

A Portaria MEC 383/2020 que fixa as regras para colação de grau na modalidade antecipada abrange, ainda, outros três cursos da área de saúde, são eles: Farmácia, Enfermagem e Fisioterapia, destes apenas o último não é ofertado pela Univasf. Para todos os estudantes destas graduações é também exigido componente mínimo curricular com o cumprimento de 20% da carga horária total do curso.

Graduandos que participam da solenidade de formatura são da primeira turma de Medicina do campus de Paulo Afonso (BA)

As ações já implementadas pela Univasf no enfrentamento à pandemia englobam diferentes iniciativas, entre as quais, a suspensão do calendário acadêmico 2020, realização de eventos e atividades acadêmicas presenciais, inclusive cerimônias de colação de grau, a fim de evitar a aglomeração de pessoas, uma das principais recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e seguida pelas autoridades de saúde também no Brasil. Com base nas medidas adotadas desde março passado pela Univasf, as solenidades de formatura são realizadas de modo remoto, através de videoconferência. Além disso, a assinatura das atas de colação pelos estudantes ocorre individualmente.

“É uma grande satisfação estarmos hoje aqui nessa posição e gerarmos a formatura dessa primeira turma. Acredito que ela vai contribuir enormemente com o desenvolvimento da região do baixo são Francisco que é uma região supercarente, tem uma demanda enorme por médicos então, a formatura desses jovens no momento de pandemia vem a se somar a todo o esforço de combate a essa pandemia e também representa uma grande resposta da Univasf às demandas existentes na região, então nós acreditamos que é fruto de um trabalho que vem sendo desenvolvido por esta instituição e que pode, com certeza, contribuir enormemente não só para o combate dessa pandemia mas para consolidar o desenvolvimento dessa região”, destaca Valdner Ramos, vice-reitor pro tempore da Univasf.

Conforme divulgado pelos órgãos oficiais, responsáveis pelas políticas de enfrentamento à Covid-19 no país e por diversas entidades científicas, o distanciamento social  é, atualmente, a mais efetiva medida para inibir a velocidade de propagação da doença e, assim, evitar o colapso da rede hospitalar, devido ao crescimento da demanda acima da capacidade de atendimento e da oferta de tratamento de suporte, principalmente aos pacientes com sintomas mais graves que requerem cuidados de medicina intensiva, sem que os hospitais estejam preparados com equipamentos, infraestrutura física e profissionais de saúde, grupo bastante impactado devido à maior exposição ao vírus, fator de risco à contaminação pelo contato direto com os pacientes, condição, esta, que tem aumentando o número de profissionais infectados por covid-19, ampliando o déficit de recursos humanos nas unidades de saúde em todo o país.

Leia abaixo entrevista concedida pelo professor Sydney Leão, coordenador do Colegiado de Medicina do campus de Paulo Afonso.

Professor do curso de Medicina do campus de Paulo Afonso e coordenador do respectivo Colegiado Acadêmico, Sydney Leão fala nesta entrevista sobre a preparação dos estudantes durante a graduação na Univasf, a formatura antecipada e a metodologia de ensino aplicada ao curso de Medicina, ofertado em Paulo Afonso. Ele comentou, também, a situação epidemiológica da Covid-19 no baixo São Francisco, a expectativa da atuação profissional dos estudantes egressos da Univasf para a região, entre outros assuntos relacionados ao tema.

Entrevista

Como o senhor avalia a possível atuação desses estudantes que se formarão antecipadamente e, especialmente, como recurso humano no enfrentamento à pandemia?

Apesar da antecipação da colação, tenho certeza, pela excelente formação que tiveram, que os alunos da turma 1 de Paulo Afonso estão plenamente preparados para entrarem na linha de frente do combate ao coronavírus. Devido ao afastamento de muitos colegas médicos, que estão infectados pelo coronavírus ou que fazem parte de grupos de risco (especialmente idosos), existe grande necessidade da chegada desses novos profissionais para o combate à pandemia. Inclusive o artigo 2 da Portaria 383/2020 do MEC assevera que os certificados de conclusão de curso e diplomas, emitidos em razão desta Portaria, terão o mesmo valor daqueles emitidos em rito ordinário.

Qual o perfil desses egressos? É provável que eles passem a atuar, já de imediato, nas unidades de saúde do município de Paulo Afonso?

A turma 1 é composta por 17 mulheres e oito homens; sendo que a imensa maioria deles não nasceram em Paulo Afonso/BA. De qualquer forma, alguns dos discentes e futuros médicos, já expressaram o desejo de regresso à nossa cidade para trabalharem na atenção básica, unidades básicas de saúde ou na atenção hospitalar, nos Hospitais HMPA [Hospital Municipal Haroldo Ferreira] e Nair Alves de Souza.

Como médico e professor de Medicina o senhor avalia que os estudantes que se formam neste momento estarão preparados para atuarem em situação de uma pandemia como atualmente?

Conforme expressado na pergunta anterior, creio que os novos médicos estão preparados para atuarem na linha de frente da pandemia que estamos vivenciando atualmente. Durante o primeiro ano de internato, eles já vivenciaram todas as cinco grandes áreas da medicina - clínica médica; clinica cirúrgica; GO [Ginecologia e Obstetrícia]; pediatria e saúde coletiva, com excelentes notas e até elogios pela performance por parte dos preceptores e supervisores do internato, que é vinculado ao HU da Univasf, em Petrolina.

Qual a situação epidemiológica de Paulo Afonso e do baixo São Francisco para a Covid-19?

Temos até o presente momento, uma pequena quantidade de casos notificados de Covid-19 na cidade de Paulo Afonso, seis casos; e um caso notificado na cidade vizinha de Delmiro Gouveia, já no estado de Alagoas. Não foram detectados óbitos, até o dia de hoje, na região.

Quantas unidades de saúde do município reservaram leitos, intermediários e de UTI - para os casos da Covid-19 e qual a capacidade de atendimento?

A prefeitura da cidade somou esforços com o governo do estado da Bahia para a montagem de uma UPA Covid-19, a qual estará sendo inaugurada hoje (29/04/2020) com quatro leitos de UTI e pretensão de chegar a 30 leitos de terapia intensiva e 100 leitos de enfermaria; estando essa UPA anexa ao Hospital Nair Alves de Souza- HNAS, atualmente vinculado a Chesf e que será o nosso futuro Hospital Universitário da Univasf Paulo Afonso. Existem ainda, na cidade, quatro unidades básicas de saúde que são referência para os casos de baixa complexidade; evitando assim possível sobrecarga do HNAS em relação a casos mais simples de Covid-19.

O curso de Medicina do campus de Paulo Afonso aplica a metodologia denominada Aprendizagem Baseada em Problemas - PBL. O senhor pode discorrer sobre esta metodologia de ensino?

A nossa metodologia (PBL) de ensino foi desenvolvida a partir da década de 70 do século passado na Universidade de Maastrich, Países Baixos; sendo adotada por grandes universidades do mundo nos últimos 50 anos. Inclusive, atualmente ela é preconizada pelas diretrizes curriculares nacionais (DCNs) de 2014, sendo adotada por todos os cursos médicos criados desde então, que é o caso do curso de medicina de Paulo Afonso. Nessa metodologia, os períodos básicos são compostos por uma única disciplina, a qual é dividida em quatro eixos principais, a saber: Habilidades, associados a propedêutica médica e cirúrgica; ATL, associado as disciplinas mais basilares do curso, como anatomia, histologia, patologia, vistas de modo integrado; PIESS, associado a medicina de família e comunidade e conhecimentos em saúde coletiva; e tutoria, eixo teórico do curso, no qual todos os alunos se reúnem em pequenos grupos para discussão de um determinado tema. Todos os diferentes eixos são constantemente integrados, especialmente na chamada ´´Prova integrada``, na qual uma única situação clínica dispara problemas para todos os eixos. No nosso curso, as aulas tradicionais/expositivas são raras; havendo um estímulo contínuo para que os alunos aprendam e produzam o seu próprio conhecimento.

Na sua opinião esta metodologia do curso médico de Paulo Afonso é uma vantagem para a atuação desses egressos neste momento especialmente?

Sim, é extremamente vantajosa; pois desde os primeiros períodos, os alunos são inseridos em situações simuladas ou reais referentes à prática médica; com enfoque à formação do médico generalista, extremamente importante nos tempos atuais para o combate a pandemia.

É a primeira turma de medicina de Paulo Afonso a colar grau, como o senhor avalia este evento associar-se a um evento de saúde pública tão grave e que tem mobilizado iniciativas dessa natureza, e o que representa esta ação também em paralelo a posição do Conselho Federal de Medicina? Existe uma carência de médicos no Brasil, em comparação a outros países de nível similar de desenvolvimento?

Acabou sendo uma coincidência a formatura dos alunos da primeira turma do nosso campus; e das primeiras turmas de outras cinco faculdades de medicina, criadas em 2014 pelo programa mais médicos, terem acontecido justamente agora, no meio dessa grande pandemia. O posicionamento do CFM [Conselho Federal de Medicina] foi de acatar as determinações de antecipação da colação de grau por parte do Governo Federal. Pessoalmente creio que não exista carência de médicos em nosso país; porém seguramente eles estão mal concentrados, havendo grande quantidade de médicos nos grandes centros do nosso país. Isso é evidenciado, indiretamente pela quantidade de médicos existentes, 450.000 e a quantidade de escolas médicas no país, 305 que é a segunda maior do mundo, ficando atrás somente da Índia.