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O que é slow fashion e por que adotar essa moda?

Slow fashion é uma alternativa sustentável à moda globalizada

por última modificação: 03/12/2018 08h55

O "slow fashion" é um termo cunhado por volta do ano de 2004, em Londres, por Angela Murrills, uma escritora de moda da revista de notícias on-line Georgia Straight.

O termo ficou conhecido depois de ser muito utilizado em blogues de moda e artigos na internet. Inspirado no conceito de “slow food”, que se originou na Itália nos anos 90, o slow fashion adaptou alguns pontos para o âmbito da moda.

Em contraposição ao fast fashion - sistema de produção de moda atual que prioriza a produção em massa, a globalização, o apelo visual, o novo, a dependência, a ocultação dos impactos ambientais do ciclo de vida do produto, o custo baseado em mão-de-obra e materiais baratos sem levar em conta aspectos sociais da produção -, o slow fashion surgiu como uma alternativa socioambiental mais sustentável no mundo da moda.

A prática do slow fashion preza pela diversidade; prioriza o local em relação ao global; promove consciência socioambiental; contribui para a confiança entre produtores e consumidores; pratica preços reais que incorporam custos sociais e ecológicos; e mantém sua produção entre pequena e média escalas.

Para explicar melhor, abaixo listo algumas características principais do slow fashion que, cunhado por Angela Murrills, teve seu significado complementado por outras ideias, posteriormente:

Valorização de recursos locais

Priorizar a produção local é uma forma de resistir contra a avalancha da globalização. Como você pôde conferir na matéria "Fast fashion: o que é, como funciona e quais impactos", a produção globalizada do fast fashion é feita por grandes marcas que padronizam as roupas para o mundo inteiro, o que acaba diminuindo o espaço para as especificidades culturais, desvaloriza trabalhadores locais e consome muitos recursos.

Valorizar consumidores, produtores e recursos naturais locais, em contraposição à produção globalizada, é uma alternativa à padronização, à centralização e à produção de produtos idênticos. Isso dá origem a ideia de "sociedade multilocal" e uma "economia distribuída", em que o global é composto por uma rede de sistemas locais. No slow fashion, tudo o que está disponível localmente é utilizado da melhor forma possível, e o que não pode ser produzido localmente é trocado e compartilhado, dando origem a uma sociedade simultaneamente local e cosmopolita - onde o termo "cosmopolita" abrange a diversidade, em oposição à homogeneidade, implícita na globalização.

Sistemas de produção transparentes com menos intermediação entre produtor e consumidor

A produção de roupas e acessórios, em geral, depende muito da comunidade local e, na produção globalizada (fast fashion), esse fato muitas vezes é obscurecido intencionalmente pelo nome da marca da moda.

No modelo slow fashion, a transparência procura informar a origem real dos produtos: em vez de omitir a origem da produção com nomes genéricos de um estilista ou marca, por exemplo, a referência é dada a empresas de menor escala: um modelo mais transparente.

Além disso, ao diminuir intermediadores no processo de troca das mercadorias, o consumidor se aproxima do produtor. Com esse estreitamento de vínculo, os produtores sentem a responsabilidade de produzir​​ com qualidade, pois os produtos serão consumidos por pessoas que eles conhecem, e os consumidores sentem uma responsabilidade em relação aos produtores, que são membros de sua comunidade. Além do mais, quando se evita intermediações nas trocas, o produto tende a encarecer menos e o produtor se valoriza.

Produtos sustentáveis e sensoriais

Os produtos sustentáveis e sensoriais do slow fashion são aqueles que têm uma vida útil mais longa e são mais valorizados que os consumíveis típicos.

O remendo é uma das práticas mais empregadas no slow fashion para prolongar a vida útil das roupas, calçados e acessórios. Ele deixou de ser utilizado principalmente por ter sido associado à pobreza, mas foi retomado pelo slow fashion e ganhou credibilidade, sendo referido como uma forma de reciclagem.

Outra maneira de prolongar a vida das roupas é fornecer produtos que têm longevidade funcional e que permanecem na moda. Os produtos desenvolvidos não podem ser aqueles da “temporada da moda”. O relacionamento do sujeito com o objeto precisa envolver algo a mais que a aparência exclusivamente. É preciso existir um vínculo capaz de evitar o descarte precoce. Um caminho nesse sentido é desenvolver vestuários que carregam uma história, origem, gosto, toque, cheiro, que sejam feitos especialmente a mão e que ofereçam algo específico do indivíduo em termos de ajustes e aparência.

Questionamento à noção da moda que se ocupa exclusivamente do "novo”

O sistema de moda precisa prestar mais atenção ao interesse do consumidor em roupas usadas, em desenho personalizado e reciclagem, que se opõe à cultura do “novo”. Dessa forma, a moda se torna mais sustentável.

Desafio ao embasamento da moda exclusivamente na imagem

slow fashion desafia a moda a reorientar a qualidade de seus produtos de maneira que a confecção do vestuário leve em conta aspectos integrais e não apenas a aparência.

Moda é escolha e não um mandato

Com a atuação da indústria globalizada que domina o mercado e padroniza a moda, a escolha por produtos diferentes é inviabilizada. O slow fashion é uma alternativa que promove maior liberdade na escolha dos produtos.

Atuação colaborativa/cooperativa de trabalho

O movimento slow fashion preza pela formação de cooperativas capazes de promoverem a colaboração entre os agentes da cadeia têxtil, uma forma de gerar um comércio mais justo - especialmente no caso das mulheres, que formam um contingente significativo no ramo têxtil.

Criação socialmente responsável e distribuição econômica

A produção valoriza os recursos locais; elimina hierarquias entre estilistas, produtores e consumidores; evita intermediários na cadeia de distribuição e possibilita a melhor distribuição econômica entre os agentes da cadeia. Como o slow fashion não se preocupa com a produção em massa, é possível desenvolver artigos a preços justos que internalizem custos sociais e ecológicos da produção, valorizando os produtores - isso evita o escoamento e o descarte rápidos das peças.

Como você pode contribuir?

Remende

A melhor maneira de praticar slow fashion é deixar de consumir novas peças de vestuário e investir em reutilização. Em vez de descartar, por que não remendar e dar um novo estilo às suas peças?  Se você não sabe costurar, procure por costureiras ou costureiros da sua região - uma forma de valorizar o trabalho local.

Visite brechós

Você pode praticar slow fashion investindo em peças de brechós, uma outra forma de reutilização. Algumas instituições de caridade fazem brechó para arrecadação, de quebra você ajuda essas instituições.

Consuma de forma responsável

Quando for comprar roupas e acessórios, procure saber se há produção local próxima de você. Prefira marcas responsáveis que se preocupam em evitar o trabalho escravo e reduzir os impactos ambientais da cadeia de produção. Normalmente marcas veganas têm essas preocupações. Procure por costureiras no seu bairro, valorize-as e confeccione roupas duráveis e personalizadas para você. Fomente a ideia de formar cooperativas de mulheres no seu bairro. Converse com amigos e amigas e troque roupas, calçados e acessórios com eles.

Seja consciente

Evite peças da moda, escolha peças mais neutras que não ficarão sem uso precocemente. Não tenha medo de repetir suas roupas! Se não estão sujas o suficiente para merecerem uma lavagem, utilize-as de novo e evite mais desgastes na máquina de lavar - assim você também diminui a geração de microplástico

Dê o exemplo

Ao aderir a atitudes desse tipo, pessoas próximas começam a notar seu comportamento e podem seguir seu exemplo. Durante muitos anos, no Brasil, as propagandas, novelas e outros meios culturais e de comunicação disseminaram a cultura do fast fashion, impondo um consumo desenfreado pautado na imagem e na não repetição de roupas, uma prática não sustentável a longo prazo.

Fonte: eCycle