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Abelhas da Caatinga são temas de pesquisas de estagiárias e pesquisadora/colaboradora do Laboratório de Entomologia do Cemafauna

publicado: 18/04/2018 09h38 última modificação: 18/04/2018 09h39
Jaquelyne Costa/ Ascom Cemafauna
Exibir carrossel de imagens O acervo tem sido tema de artigos que são apresentados em diversos congressos Nacionais e Internacionais.

O acervo tem sido tema de artigos que são apresentados em diversos congressos Nacionais e Internacionais.

O Laboratório de Entomologia do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna Caatinga) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) tem em seu acervo uma rica representação de insetos da fauna da Caatinga, inclusive, com descoberta importante como o caso da borboleta Melanis caatingensis (Callaghan & Nobre, 2014) encontrada por analistas ambientais da instituição nas matas do município de Brejo Santo (CE) em 2014. Sua coleção científica tem sido majorada, constantemente, graças às pesquisas de estagiárias que são orientadas por analistas e a pesquisadora-colaboradora do Centro a Profa. Dra. Aline Andrade. Contando mais de 540 indivíduos distribuídos entre 48 espécies e 14 gêneros, o acervo tem sido tema de artigos que são apresentados em diversos congressos Nacionais e Internacionais.

A estudante do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Khatianne Correia apresentou recentemente seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre uma espécie de abelha sem ferrão.  Com o tema ‘Variação estacional na atividade de forrageamento de Melipona mandacaia (Hymenoptera: Apidae: Meliponini)’, Khatianne observou que o comportamento de forrageamento ou atividades externas dessas abelhas, incluindo a coleta de pólen, néctar, resina e barro, é influenciado por fatores microclimáticos, notadamente, umidade, temperatura e precipitação, que, isolados ou em conjunto interferem nas atividades de voo.

Como bem ressalta a pesquisa de Khatianne, o clima da Caatinga é caracterizado por apresentar temperaturas anuais elevadas e longos períodos de escassez de água, com marcada variação estacional distribuída em períodos seco e chuvoso. A intensa produtividade e florações e, consequentemente, a disponibilidade de recurso, está associada ao período chuvoso, de maneira que nestas abelhas, as variações climáticas podem definir um padrão de forrageamento.

O experimento foi conduzido no Setor de Apicultura e Meliponicultura da Fazenda Experimental da Univasf (Campus de Ciências Agrárias) em Petrolina, em que foram observadas três colônias de Melipona mandacaia alojadas em caixas racionais. A metodologia do experimento consistiu na coleta de dados comportamentais feita com amostragem de três dias consecutivos por mês, durante os períodos seco (setembro e outubro de 2017) e chuvoso (dezembro de 2017 a janeiro de 2018). “A coleta de dados foi realizada através de observação direta utilizando o método de varredura (registrando todas as atividades externas das operárias) feito junto à entrada da colônia, entre 5h e 17h, com sessões de 20 minutos a cada meia hora, observando uma colônia ao dia. O registro das atividades de forrageamento foi contabilizado utilizando um etograma (catálogo completo do comportamento de um determinado animal, no caso, a espécie Melipona mandaçaia), quantificando entradas e saídas de recursos como resina, barro, pólen, néctar e lixo. Adicionalmente, dados microclimáticos foram aferidos a cada 30 minutos durante as sessões de observação”, explicou a estudante.

Para coleção, o acervo de abelhas foi montado principalmente com indivíduos coletados em busca ativa, tanto por biólogos quanto por estagiários em áreas de Caatinga nas e corregiões de Chapada, incluindo a Chapada Norte (Bahia), Chapada Diamantina (Bahia) e Chapada do Araripe (Ceará), assim como nas áreas dos municípios inseridos nos eixos Norte e Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas Setentrionais (PISF) - uma obra do Ministério da Integração Nacional, nos estados de Pernambuco e Ceará. Os exemplares coletados por eles proporcionam a feitura dessas pesquisas com temas variados como a composição, variação temporal e habilidade de dispersão das populações de abelhas em áreas de Caatinga, realizada pela também estudante do curso de Ciências Biológicas da Univasf e estagiária do Laboratório, Taynara Sales.

As abelhas são animais muito importantes no cenário da biodiversidade: polinizam não apenas as culturas agrícolas como também a flora silvestre. Cerca de 35% da produção agrícola global, bem como 85% das plantas nativas dependem, em algum grau, da polinização efetiva desse grupo. As alunas citadas estão vinculadas ao projeto em andamento, supervisionado pela Profa. Dra. Aline Andrade, vinculada ao programa de Genética e Evolução da UFSCar, em parceria com o Cemafauna e com a FFCLRP-USP. Tal projeto contempla uma análise da estrutura genética, sinalização química e habilidade de dispersão das populações de abelhas em remanescentes relictuais de Caatinga Florestada.

A pesquisadora Aline Andrade explica que os resultados preliminares deste estudo mostraram que as abelhas estão melhor representadas em ambientes onde ainda há conexão entre fragmentos remanescentes, indicando uma tendência à estruturação com redução de dispersão das abelhas entre manchas mais isoladas. Significa então dizer que como efeito da fragmentação de habitat (desmatamento), essas populações podem perder em variabilidade genética por rompimento ou comprometimento do fluxo gênico (troca de material genético).

“Em linhas gerais, a perda da variabilidade genética reduz a habilidade das populações de se adaptarem em resposta às mudanças ambientais (potencial evolutivo). Por exemplo, se alguma mudança ambiental drástica ocorrer, a população com maior diversidade genética apresenta maior chance de possuir pelo menos alguns indivíduos com uma característica genética que lhes permitam viver em tais condições. Se a diversidade genética é baixa, a população corre grande risco de não sobreviver, pois provavelmente não possuirão condições de se adaptarem a tal ambiente. A variabilidade genética, portanto, é importante para a persistência evolutiva das espécies”, conclui Aline.