Diego Souza na cerimônia de premiação no Iphan. /Foto: Mariana Alves/Iphan

O então estudante Diego Ribeiro de Souza ingressou no curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), no ano de 2015, já pensando em utilizar suas origens como fonte de estudo. E assim o fez ao longo de toda a graduação, realizada no Campus Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (PI). Ele foi coletando informações, observando o real e estudando teóricos e pesquisadores renomados da área. Toda essa determinação e dedicação resultou em reconhecimento. O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Souza venceu a 11ª edição do Prêmio Luiz de Castro Faria 2023, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na categoria Monografia de Graduação. A cerimônia de premiação foi realizada no dia 1º de dezembro, no Iphan, em Brasília (DF).

O trabalho intitulado ‘Arqueologia no "meu interior": tessitura das relações entre pessoas e patrimônio na comunidade Lagoa dos Torrões’, foi orientado pela professora Vanessa Linke e, apesar de ter sido elaborado entre 2021 e 2022, começou a ser pensado muito antes, lá no primeiro período, segundo o próprio autor. “Reuni informações para minha pesquisa desde o primeiro período da universidade, pois já sabia que desenvolveria meu trabalho de conclusão de curso sobre minha comunidade. Com isso em mente, sempre que tinha uma temática ou modelo de investigação que atendesse aos interesses da minha pesquisa, já estudava e procurava as referências”, conta Souza.

O agora arqueólogo Diego Souza é de Lagoa dos Torrões, comunidade rural de São Raimundo Nonato, lugar com o qual mantém um forte laço afetivo e cujo potencial histórico ele sempre valorizou. Nada mais natural que unir o vínculo com suas origens ao conhecimento que a formação universitária lhe proporcionou. Na monografia, ele investigou as relações entre as pessoas e o patrimônio local, utilizando como metodologia a autoetnografia. Souza explica que essa metodologia possibilita a inserção do autor com voz ativa na pesquisa, permitindo também o envolvimento afetivo com o trabalho.

“Sempre fui consciente da importância que têm as narrativas dos habitantes sobre o patrimônio arqueológico local. O que me levou a investigar as relações entre pessoas e patrimônio é minha relação afetiva com minha comunidade somada ao interesse que os moradores demonstram sobre os bens lá existentes”, diz o pesquisador. Ele ressalta que adotou uma postura decolonial, dialogando com vários autores e buscando referências na Arqueologia do presente e na Arqueologia pública.

A orientadora de Souza, professora Vanessa Linke, diz que o trabalho se destaca pelo percurso teórico escolhido, cuidado metodológico e, principalmente, por engajar e compreender narrativas patrimoniais e relações estabelecidas na comunidade do pesquisador. “Tudo isso combinado é muito potente na história do passado recente do Piauí e para constituição de um presente que evidencie os valores sociais e culturais das comunidades rurais, possibilitando um presente e um futuro mais justo e socialmente engajado”, observa a docente.

Para ela, a conquista do prêmio representa a seriedade e importância do trabalho, além do reconhecimento da trajetória de luta de Souza e de sua família para a conclusão do curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial e expressa ainda o reconhecimento da produção de uma universidade periférica, interiorana, fruto de políticas públicas de democratização do ensino.

Diego Souza enxerga o prêmio Luiz de Castro Faria como um momento de celebração e ressalta a formação proporcionada pela Univasf. “O prêmio celebra um momento em que a Univasf, sendo uma universidade interiorana, consegue o êxito de formar profissionais que são capazes de executar um produção científica de qualidade ao ponto de pessoas como eu, oriundas da classe trabalhadora, conseguirem, após muito esforço e garra em apanhar algumas oportunidades oferecidas, ganhar uma premiação como essa, de nível nacional. Certamente a premiação não vem apenas para mim, mas para todos nós, estudantes da Univasf, que trilhamos esse caminho”, afirma.

O Prêmio Luiz de Castro Faria foi criado em 2013 e prestigia trabalhos acadêmicos que trazem originalidade e contribuições ao tema da preservação do patrimônio arqueológico brasileiro. O concurso é realizado por meio do Centro Nacional de Arqueologia (CNA), unidade especial do Iphan.