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Pesquisa de professores da Univasf identifica dados inéditos sobre a formação de fósseis
Professor Daniel de Sousa mostra um fóssil encrustado na crosta carbonática. |
Docentes da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) divulgaram um estudo com dados novos para a literatura científica sobre o processo de formação de fósseis, a fossilização, em cavernas de regiões tropicais. As informações foram obtidas através de uma investigação com fósseis pertencentes ao período geológico quaternário, com cerca de 11 mil anos de idade, da Gruta da Lapinha, em Nova Redenção (BA). O estudo é considerado pioneiro por apresentar um nível de detalhe sobre o processo de formação de fósseis desse período, encontrados em cavernas dos trópicos, que nunca havia sido mostrado, e obter resultados inéditos sobre as alterações à nível molecular que ocorrem nos ossos durante a fossilização. A pesquisa teve o apoio de pesquisadores dos departamentos de física da Universidade de Brasília (UNB) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e foi publicada recentemente pela revista Scientific Reports, do Grupo Nature, um dos periódicos de maior relevância no meio científico mundial.
A pesquisa “Processos diagenéticos em ossos fósseis quaternários de cavernas tropicais de calcário” é de autoria do professor do Colegiado de Geografia da Univasf, Campus Senhor do Bonfim (BA), Daniel de Sousa, com coautoria dos professores da Univasf Estevan Eltink, do Colegiado de Ecologia, Campus Senhor do Bonfim, e Raquel Oliveira, do Colegiado de Ciências dos Materiais, Campus Juazeiro (BA), além dos pesquisadores Jorlandio Félix, da UNB, e Luciano Guimarães, da UFV. Com o estudo, foi possível construir um modelo que descreve como se formam fósseis em cavernas tropicais e compreender, entre outras coisas, o motivo de existirem fósseis em cavernas que, apesar de terem origem em um mesmo local, possuem características muito distintas entre si, como diferenças de peso e formato. A principal resposta para esta pergunta estava em uma das etapas da fossilização descritas no modelo: alteração na estrutura do biomineral que constitui os ossos.
Professor Estevan Eltink e professor André do IFPE discutem a respeito da acumulação de fósseis.
Segundo a pesquisa, em uma caverna, a fossilização ocorre de maneiras diferentes a depender de onde os ossos estejam localizados dentro dela, devido à ação da água, que influencia diretamente no formato desse biomineral. “A água que goteja das estalactites e do teto da caverna é rica em carbonato de Cálcio, substância que, associada à decomposição do material orgânico da espécie, resultará em um fóssil com estrutura muito parecida com um osso "fresco", inalterado. Entretanto, se o osso for depositado em um local da caverna em que não há o gotejamento de água, irá ocorrer apenas a degradação do material orgânico e da matriz biomineral, a apatita, gerando elevada desordem na estrutura e tamanho do material ósseo”, explica Daniel de Sousa.
Modelo de diagênese, apresentando os detalhes das etapas da fossilização.
A formação de fósseis é um processo natural, resultante da ação de elementos físicos, químicos e biológicos sobre restos orgânicos em decomposição. Esse processo acontece assim: quando uma espécie morre, o seu corpo passa por um processo de decomposição. Após isso, pode ser soterrado por camadas de sedimento, que se assentam pela ação da água ou dos ventos. Essa camada se solidifica e inicia um processo chamado “diagênese”, quando acontecem modificações químicas e físicas nos sedimentos até que se transformem em rochas sedimentares. Essas rochas, que guardam vestígios de um organismo, apresentam marcas que permitem identificar a espécie.
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O Scientific Reports é um jornal multidisciplinar científico online revisado por pares, publicado pela Nature Research, cobrindo todas as áreas das ciências naturais. A revista foi lançada em 2011. O professor Daniel destaca que publicação mostra a qualidade do trabalho feito na Univasf e do campus Senhor do Bonfim (BA), localizado no interior do semiárido brasileiro. “Todos os grandes grupos de pesquisas das mais diversas áreas possuem artigos publicados na Scientific Reports. Publicar nessa revista revela que nós podemos sonhar em fazer pesquisas de qualidade, semelhantes ao que é produzido nos grandes centros de pesquisa do mundo. Por isso, agora, nosso grupo pensa nos próximos passos”, afirma o docente.