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Professor da Univasf lidera descoberta de nova espécie de dinossauro no Maranhão

publicado: 31/07/2025 15h53 última modificação: 31/07/2025 19h34

 

Uma pesquisa paleontológica liderada por um professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) resultou na identificação de uma nova espécie de dinossauro e na devolução de seus fósseis ao estado do Maranhão, onde foram descobertos em 2021. A iniciativa, coordenada por Elver Mayer, docente do Colegiado de Geologia, envolveu uma operação de escavação, análise e transporte do material, com o objetivo de preservar esse patrimônio natural e garantir seu acesso à população. O conjunto, formado por 13 elementos ósseos, está em exposição desde ontem (30) no Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão, em São Luís, após ter passado por análises em São Félix do Xingu (PA), de onde retorna agora ao estado de origem.

O resultado dessa iniciativa foi alcançado após três anos de estudos sobre os fósseis encontrados no município de Davinópolis, no sudoeste do Maranhão. Os cientistas constataram que os ossos pertencem a uma nova espécie de dinossauro, ainda não descrita pela ciência, com idade estimada em cerca de 100 milhões de anos. Trata-se de um animal do grupo dos saurópodes, um tipo de titanossauro, caracterizado pelo pescoço alongado, cabeça pequena e alimentação herbívora. Os vestígios indicam que o dinossauro de Davinópolis media aproximadamente 18 metros de comprimento, o maior encontrado no Maranhão.

“A importância dessa descoberta é tão grande quanto os fósseis encontrados”, comenta Mayer. “Trata-se de uma nova espécie, localizada em um intervalo de tempo intermediário entre os grandes saurópodes já conhecidos no Brasil, o que contribui significativamente para o entendimento da diversidade desses animais no período Cretáceo.”

O achado ocorreu durante as obras de construção de um terminal ferroviário da empresa Brado Logística, em plena pandemia de Covid-19. Após as chuvas exporem os ossos em um barranco escavado para adequações topográficas, o arqueólogo Daniel Ribeiro da Silva, da empresa Arqueologística, responsável pelo monitoramento da obra, percebeu a importância do material e deu início aos trâmites para sua correta destinação.

Elver Mayer, então professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), foi indicado para conduzir os trabalhos devido à proximidade geográfica da instituição com o local da descoberta. A ação contou com o apoio de uma equipe multidisciplinar formada por arqueólogos, biólogos e profissionais da fotografia científica. “O material, inicialmente apontado como sendo de uma preguiça gigante, era, na verdade, de um dinossauro de grande porte”, relembra Mayer. “Embora eu não seja especialista em dinossauros, o tamanho dos ossos, a profundidade em que estavam e a presença de rochas do Cretáceo na região indicavam claramente essa possibilidade”, contou o professor.


Ilustração destaca as partes do esqueleto do dinossauro encontradas.

Após a identificação dos fósseis como pertencentes a um grande dinossauro herbívoro, o material foi levado ao campus da Unifesspa em São Félix do Xingu (PA), onde passou por processos de limpeza e reconstituição. Já atuando como docente da Univasf, no Campus de Senhor do Bonfim (BA), Mayer passou a liderar uma articulação com paleontólogos de diferentes estados brasileiros, reunindo uma equipe especializada para realizar a análise aprofundada dos fósseis. O trabalho resultou em um artigo científico que batiza oficialmente a nova espécie e que está em fase final de publicação, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2025.

A descoberta, que teve a supervisão da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) no processo de devolução dos fósseis ao estado de origem, entre outras participações, reforça a importância das instituições públicas de ensino superior no avanço da paleontologia e na valorização do patrimônio brasileiro. “As universidades públicas têm um papel essencial no avanço da pesquisa paleontológica no Brasil”, afirma Mayer. “Como os fósseis são patrimônio da União, essas instituições, que formam a maioria dos profissionais qualificados para esse tipo de trabalho, são responsáveis tanto pela sua preservação quanto pela produção e divulgação do conhecimento”.

De acordo com a Lei de Proteção ao Patrimônio Fossilífero, todo fóssil encontrado no Brasil é considerado patrimônio da União e pode ser incorporado a coleções científicas mantidas por universidades, centros de pesquisa ou museus em qualquer parte do território nacional. Mesmo com a possibilidade legal de manter os fósseis em instituições fora do Maranhão, o professor Elver Mayer optou por devolvê-los ao estado de origem, como forma de garantir maior acesso da população local a esse patrimônio científico.

“Vivemos em um país com um histórico de colonização, e é comum ouvirmos relatos sobre riquezas naturais levadas para fora, muitas vezes para outros países. Na paleontologia, felizmente, temos avançado no sentido de manter os fósseis próximos dos locais onde foram descobertos”, destaca Mayer. “No caso do Maranhão, essa escolha tem um peso simbólico. As pessoas se identificam com sua terra, com sua história e, por extensão, com aquilo que é próprio de sua região. Se eu fosse maranhense, com certeza gostaria que esse fóssil estivesse em São Luís”, acrescenta.

Além disso, segundo o professor, manter os fósseis no Maranhão garante o acesso de outros pesquisadores ao material, fortalecendo a produção científica tanto regional quanto nacional. A exposição do conjunto ficará aberta ao público por um mês no Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia. Após esse período, os fósseis serão disponibilizados à comunidade científica para estudos.