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TCC de egresso da Univasf une Arte e Educação para transformar o cotidiano de internos do Conjunto Penal de Juazeiro

publicado: 17/07/2017 11h24 última modificação: 18/07/2017 08h17
João Pedro Ramalho
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Internos do Conjunto Penal de Juazeiro contam suas histórias de vida em peça teatral

Em um ambiente de encarceramento como um conjunto penal, seus internos costumam sofrer estigmatizações por terem cometidos infrações à Lei. Entretanto, a união da arte à educação pode ser responsável por transformações e por permitir novas oportunidades a esses sujeitos. Essa foi a intenção de Valdeir Oliveira, que produziu, com os internos do Conjunto Penal de Juazeiro (BA), seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Licenciatura em Ciências Sociais, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). O trabalho foi defendido em 20 de junho, no próprio complexo prisional, e teve como produto final uma peça de teatro, intitulada “Histórias descortinadas”.

A banca de TCC foi formada pelos professores do Colegiado de Ciências Sociais da Univasf Vanderléa Andrade, a orientadora do trabalho, e Delcides Marques; e pelo professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Reginaldo Carvalho. A peça defendida conta as histórias de vida de dez internos, dos quais seis participaram da apresentação, que foram ouvidas por Valdeir Oliveira durante o processo de produção do TCC. Inicialmente, o então graduando tinha como proposta a realização de cinco oficinas com os internos para escutar esses relatos. Porém, no quarto encontro, lançou a proposta da apresentação teatral. Eles aceitaram.

Valdeir Oliveira conta que, para redigir o script, lançou a pergunta aos internos: “qual a história que vocês querem contar?”. “A gente também é ser humano, tem sonho, teve infância, já estudou, já trabalhou”, responderam. Essa resposta motivou Oliveira a transformar em matéria-prima para o texto as trajetórias de cada um, anteriores à chegada ao sistema prisional. Dessa forma, a peça traz, por exemplo, as memórias de infância: os campeonatos de futebol, os desfiles de campeões nas escolas e as brincadeiras, como o amassa-tomate ou estrelinha nova sela, em que uma criança fica abaixada enquanto as outras correm e pulam por cima. Traz também o desejo sempre constante de dar orgulho aos pais.

A aproximação do egresso da Univasf com os internos já vem de um longo tempo. Teve início a partir do 5º período do curso, quando Oliveira cursou a disciplina de Estágio Supervisionado I no Conjunto Penal, na busca por compreender as formas de educação escolar e de educação pela arte. Nesse primeiro momento, realizou junto aos alunos um sarau, com apresentação de poesias, cordéis e músicas. Dois semestres depois, retornou ao complexo para o terceiro módulo de Estágio, durante o qual trabalhou a união entre a Sociologia e a Arte. Na ocasião, descobriu que os internos queriam uma formação artística não apenas teórica, mas também prática.

Para Oliveira, a construção da peça teatral “Histórias descortinadas” permitiu, então, o envolvimento com a Arte tão desejado pelos internos. “Foi bacana porque eles se permitiram desde o início. Na prisão, o corpo fica mais retraído, a imaginação mais bloqueada. Mas, o teatro aproximou as pessoas, despertou senso crítico, resgatou os sonhos, as perspectivas de vida”, conta o recém-formado estudante de Ciências Sociais.

Atualmente como professor de Sociologia no Colégio Estadual Cecílio Mattos, em Juazeiro, Oliveira acredita que essa experiência foi enriquecedora para sua formação profissional. “Eu quis uma forma de educação diferenciada. Pude entender que cada espaço de educação é diferente, que a educação pode ser uma atividade de melhoria do sujeito, desde que seja crítica”, afirma Oliveira.