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Arqueóloga formada pela Univasf é premiada no 12º Prêmio Luiz de Castro Faria

publicado: 19/12/2024 17h31 última modificação: 19/12/2024 17h31

Jainy Mendes durante cerimônia de premiação do 12º Prêmio Luiz de Castro Faria.

A arqueóloga Jainy da Conceição Mendes, egressa da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), conquistou menção honrosa no 12º Prêmio Luiz de Castro Faria, realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio do Centro Nacional de Arqueologia (CNA). O trabalho “Os caboclos bravos em Massapê do Piauí” foi premiado na Categoria II, de Artigos relacionados ao tema do prêmio: Arqueologia das Repressões e Resistências. A cerimônia de premiação ocorreu na tarde da última segunda-feira (16) na sede do Instituto, em Brasília, com transmissão pelo canal do Iphan no YouTube, onde o vídeo permanece disponível para visualização.

O artigo é resultado do Trabalho de Conclusão Curso (TCC) de Jainy Mendes intitulado “Os Caboclos Bravos em Massapê do Piauí: narrativas, materialidades, lugares e saberes”, defendido em agosto de 2023. O trabalho, que está disponível para acesso neste link, foi orientado pelo professor do Colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial Alencar de Miranda Amaral. Jainy participou da premiação por meio de um vídeo, exibido durante o evento, no qual fala sobre sua pesquisa.

No artigo, a pesquisadora faz uma análise sobre como as memórias das populações rurais do município de Massapê do Piauí se relacionam com o passado indígena documentado nas fontes escritas até o século XIX, na região centro-sul do estado. A pesquisa foi realizada com base em discussões e entrevistas abertas com dez moradores das comunidades Jacu, Lagoa de Dentro, Morrinhos e Vilão. O estudo revelou memórias ligadas aos povos indígenas, especialmente aos “caboclos bravos” e aos locais onde habitavam. Jainy (na foto ao lado com D. Joana, uma das entrevistadas) explica que os caboclos bravos eram pessoas que habitavam as matas e eram perseguidas e muitas vezes escravizadas, mas quando livres eram consideradas bravas e amedrontadoras.

“Os dados mostram que essas populações reconhecem nessas memórias sua ancestralidade, desafiando o discurso do extermínio dos povos originários. Além disso, as narrativas incluem episódios como a captura de indígenas com o uso de animais, além das histórias sobre as furnas onde viviam. Tais relatos possibilitam introduzir algumas discussões sobre a categoria político-cultural de Amefricanidade de Lélia Gonzalez, destacando como os caboclos, por vezes negros, na condição de indígenas, eram também sujeitos à escravidão”, diz Jainy.

O professor Alencar Amaral destaca que a menção honrosa conquistada por Jainy é fruto de sua dedicação ao longo do curso e particularmente durante a execução da pesquisa. Ele ressalta que o trabalho é, do ponto de vista teórico, bem vinculado ao tema de pesquisa e discute as ancestralidades indígenas e afrodiaspóricas no contexto da cidade da pesquisadora, algo que até então não havia sido realizado. “Ela faz um levantamento tanto de materialidades associadas à presença indígena e afrodiaspórica no município quanto de locais arqueológicos, conduzindo a pesquisa a partir de relações afetivas e familiares que tem com a comunidade. Metodologicamente e teoricamente o trabalho desponta naquilo que a gente considera como uma arqueologia do presente e uma arqueologia do passado recente. Esses também são pontos muito importantes do trabalho dela”, destaca.  

A pesquisadora, na colação de grau, recebendo a láurea da professora Maria Fátima Ribeiro Barbosa, sob aplausos do seu orientador.

A premiação da arqueóloga é também mais um reconhecimento da qualidade dos trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelos estudantes da Univasf, na visão do docente. Amaral lembra que trabalhos de outros egressos da Univasf já venceram edições anteriores do Prêmio Luiz de Castro Faria, que este ano passou por uma mudança nas categorias de premiação e premiou exclusivamente artigos científicos e não mais monografias.

“De fato São Raimundo Nonato e o curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial são um centro de referência na produção de uma Arqueologia que também é diferenciada daquela que vem sendo produzida em outros contextos. É uma Arqueologia socialmente engajada na qual os pesquisadores, como é o caso de Jainy, têm um vínculo afetivo com os temas de pesquisa e isso tem consolidado a produção daquilo que a gente está chamando de Arqueologias afetivas e vêm se destacando no cenário nacional tanto pela inovação teórico-metodológica das abordagens quanto pela qualidade dos trabalhos produzidos”, observa o docente.

Estudante laureada de sua turma de arqueólogos, formada em 2022.2, Jainy afirma que essa menção honrosa tem um grande significado. “Profissionalmente, esse é um passo importante na formação do meu currículo. Obter esse reconhecimento, em meio a outros trabalhos de relevância ímpar, de pessoas com bagagens admiráveis, é algo realmente incrível”. Ela ressalta ainda a relevância da premiação para sua história de vida. “Pessoalmente, significa o reconhecimento de uma história e uma ancestralidade que também é minha. A pergunta que mais ouvi ao ingressar na universidade foi: “onde fica Massapê?”, tentar responder essa pergunta através da Arqueologia, foi o que fiz até aqui, espero continuar aperfeiçoando essa resposta”, diz.

Prêmio Luiz de Castro Faria – A 12ª edição do Prêmio Luiz de Castro Faria premiou quatro artigos científicos: dois na Categoria I, que contemplou ações de preservação do Patrimônio Arqueológico brasileiro, e dois na Categoria II, que contemplou artigos relacionados à temática da premiação, a Arqueologia das Repressões e Resistências. Criado em 2013, o Prêmio Luiz de Castro Faria reconhece a pesquisa acadêmica que trata sobre preservação do Patrimônio Arqueológico brasileiro. O nome do concurso homenageia o museólogo e antropólogo Luiz de Castro Faria, que contribuiu para a formação de várias gerações de especialistas e professores no campo da arqueologia.