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Egressa de Ciências Sociais da Univasf recebe o Prêmio Antropologia e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Antropologia

publicado: 09/08/2024 14h21 última modificação: 09/08/2024 14h28

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da egressa do curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Ana Luiza Souza Jesus, recebeu o Prêmio Antropologia e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), na categoria Graduação. Intitulada "“Julgai, Fazendeiros, o Vosso Interesse”: biopolítica e corpos de mulheres escravizadas segundo o saber médico de Jean Baptiste Imbert", a pesquisa foi desenvolvida ao longo de dois anos, a partir de debates realizados pelo Grupo de Estudos sobre Cercamentos, Controles e Mercados (Cercos). A monografia trata do discurso médico a respeito de mulheres escravizadas no século XIX e foi orientada pelo docente do Colegiado de Ciências Sociais (Ciso), Adalton José Marques. A premiação foi realizada durante a 34ª Reunião Brasileira de Antropologia, que ocorreu em Belo Horizonte, entre os dias 23 e 26 de julho.

O Prêmio Antropologia e Direitos Humanos visa estimular, apoiar e divulgar trabalhos que tratem da contribuição da Antropologia para diversas áreas relacionadas à temática dos Direitos Humanos e premia pesquisas de graduação, mestrado e doutorado. A edição de 2024 do prêmio teve como tema “Antropologia e Direitos Humanos: pluralidade de saberes e práticas de pesquisa na antropologia”. O TCC de Ana Luiza Jesus, que concluiu o curso em 2023, foi desenvolvido a partir do estudo de um capítulo do Manual do Fazendeiro, escrito pelo médico francês Jean Baptiste Imbert no século XIX, que abordava as necessidades médicas das mulheres escravizadas.

Segundo Ana Luiza, esse tipo de literatura orientava os proprietários de escravizados e de terras na época e continha dicas sobre a produção e a manutenção das propriedades, além do cuidado com a vida dos próprios escravizados. “No capítulo dedicado às mulheres, não se tratava do respeito à saúde e dignidade da mulher, mas sim de como elas eram vistas como uma propriedade a ser cuidada. O foco era aumentar a capacidade reprodutiva; ou seja, havia um interesse explícito no texto para que essas mulheres gerassem outros bebês e, assim, aumentassem o número de escravizados”, afirma a egressa de Ciências Sociais.

Ana Luiza foi à cidade de Belo Horizonte receber o prêmio e está muito orgulhosa de sua conquista. “Há uma necessidade de retomar o passado para compreender o presente a partir desse passado. Esta foi uma pesquisa feita por uma pesquisadora negra, do interior da Bahia, descendente de trabalhadoras domésticas. Então, este prêmio é muito significativo, não só pelo reconhecimento nacional, por ter sido premiada entre trabalhos de tantas outras universidades, mas também pelo peso emocional, acadêmico, político e pessoal”, ressalta.

Esta é a terceira premiação obtida por pesquisadoras do Cercos. Ana Vitória Gonçalves recebeu Menção Honrosa na Jornada de Iniciação Científica durante a XIV Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (Scientex-Univasf), em 2022, e Izabel Cristina Luz Castro recebeu Menção Honrosa no IX Prêmio Antropologia e Direitos Humanos, na categoria Graduação, da ABA, em 2020. “Esse prêmio é muito importante no âmbito nacional das Ciências Sociais, principalmente da Antropologia. A premiação da monografia de Ana Luiza evidencia seu trabalho árduo de pesquisa, sua persistência nos arquivos, e sua capacidade analítica e de escrita. Evidencia, também, a formação comprometida que o Colegiado de Ciências Sociais oferece aos seus estudantes, refletida, também, no número expressivo de egressos aprovados em programas de pós-graduação em Antropologia, Ciência Política e Sociologia de todo o país”, ressalta Adalton José Marques, orientador do trabalho premiado.

Cercos – O Grupo de Estudos sobre Cercamentos, Controles e Mercados (Cercos) foi formalizado em 2023 no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, mas sua criação remonta a 2019, a partir da disciplina optativa Antropologia, Política e as Formas de Governo. Inicialmente, era um grupo de estudos quinzenal chamado Grupo de Estudos sobre Terra e Prisão, que mais tarde se transformou no Cercos por meio da parceria com o professor Leonardo Milanez de Lima Leandro, docente do Colegiado de Administração. Liderado por Marques, o grupo estuda três linhas de pesquisa: a pecuária na formação econômica do Brasil; desenvolvimentismo, periferização e expansão policial-penitenciária; e produção escravista e regimes de punição.