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Pesquisa realizada na Univasf descreve nova espécie de parasito de anfíbio conhecido como rã

publicado: 25/01/2024 11h14 última modificação: 25/01/2024 11h16

A descrição de uma nova espécie de parasito de anuro (rã) encontrada em Petrolina (PE), realizada em pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), foi um dos destaques do periódico científico Journal of Helminthology em dezembro, com artigo publicado na revista inglesa. O novo nematoide do gênero Oswaldocruzia, nomeado franciscoensis em homenagem ao Rio São Francisco, foi coletado durante o trabalho de doutorado da professora do Colegiado de Zootecnia da Univasf Gabriela Felix do Nascimento Silva. A descrição do parasito foi finalizada no decorrer da execução de projeto vinculado à Univasf, com bolsa da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), do taxonomista de helmintos Fabiano Matos Vieira, sob a supervisão do professor do Colegiado de Ciências Biológicas (CCBIO) Diego César Nunes da Silva.

A pesquisa também teve a colaboração do professor do CCBIO Leonardo Barros Ribeiro e desenvolvida em parceria com o pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) Luís Muniz-Pereira e os docentes Felipe Bisaggio Pereira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Jaqueline Bianque de Oliveira, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). O artigo publicado “Oswaldocruzia franciscoensis n. sp. (Nematoda: Molineidae) in Leptodactylus macrosternum Miranda-Ribeiro, 1926 (Anura: Leptodactylidae) from Caatinga morphoclimatic domain, Brazil: morphological and molecular characterisation” apresenta os resultados da convergência de dois projetos de pesquisa. O de doutorado da docente Gabriela Silva no Programa de Biociência Animal da UFRPE, que tinha dentre os objetivos realizar um estudo de ecologia parasitária em anuros, e o projeto de Fabiano Vieira com o objetivo de estudar a biodiversidade de parasitos de anfíbios e répteis.

As coletas para o desenvolvimento da pesquisa foram iniciadas em 2018. Após essa fase inicial, partiu-se para a realização da taxonomia, área da biologia responsável por identificar, nomear e classificar os seres vivos. O processo de estudo taxonômico ocorreu principalmente entre os anos de 2021 e 2022, sendo que e a parte de identificação morfológica (taxonomia clássica) aconteceu em 2022 e a parte de biologia molecular em 2023. “Ao iniciarmos as coletas verificamos que estávamos diante de possíveis espécies de parasitos que ainda não haviam sido descritas pela ciência.  Em função da necessidade da identificação taxonômica correta dos parasitos, iniciamos a parceria com Fabiano Vieira, que viu grande potencial na região para tais estudos de taxonomia”, conta Gabriela.

Vieira explica que a identificação dos parasitos passa por uma etapa de estudo em microscópio de luz, que envolve a busca por um conjunto de características morfológicas que são exclusivas de cada espécie. “Efetuamos o estudo com técnicas moleculares desse parasito. Esse estudo tem alguns objetivos, sendo o primeiro validar a espécie nova no gênero Oswaldocruzia, o segundo verificar se as características genéticas não se assemelham a espécies desse gênero que já foram descritas e o último investigar as relações de parentesco dessa nova espécie com outras espécies do gênero, elaborando uma análise filogenética”, conta o taxonomista.

O pesquisador ainda ressalta que as novas espécies publicadas, a partir dos parasitos coletados na tese de doutorado da professora Gabriela, são as primeiras espécies novas dos gêneros de nematoides descritos em anfíbios em áreas de Caatinga do Brasil. “Isto indica que são necessários mais estudos de biodiversidade e taxonomia de nematoides nesse domínio morfoclimático, pois quando comparamos o volume de pesquisas nessa região com os biomas Mata Atlântica, Cerrado, Amazônico e Pantanal, verificamos o quão escassos ainda são as pesquisas como parasitos da vida silvestre nas áreas de Caatinga no Brasil”, diz.

“Nossa pesquisa contribui para o conhecimento da real biodiversidade das espécies da Caatinga, uma região que no passado era vista como pobre em biodiversidade e com poucos endemismos”. É o que afirma Gabriela, que ainda destaca a importância dos parasitos para a diversidade biológica na fauna silvestre. “Os parasitos são uma biodiversidade oculta e precisam ser considerados quando pensamos em conservação da biodiversidade e as extinções de espécies em função de desequilíbrios ambientais. Um ambiente natural saudável é aquele rico em parasitos, pois isto significa que as relações ecológicas estão ocorrendo de forma a garantir a sobrevivência de uma maior diversidade de espécies”, finaliza.