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Professor de Engenharia Mecânica é primeiro servidor da Univasf a ter aposentadoria compulsória

publicado: 27/10/2021 10h23 última modificação: 27/10/2021 10h23
Renata Freitas

Professor Angel Rojas no Laboratório de Soldagem, no Campus Juazeiro.

O professor do Colegiado de Engenharia Mecânica (Cenmec) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) Angel Bienvenido González Rojas foi um dos docentes admitidos no primeiro concurso realizado para os cargos do magistério superior da Instituição e empossado em 2004. Este mês, ele se tornou o primeiro servidor da Univasf a ser aposentado por ter alcançado a idade máxima permitida para atuar no serviço público federal. Nascido em 2 de outubro de 1946, Angel Rojas completou 75 anos e, em meio à pandemia de Covid-19, precisou se despedir da sala de aula.

Portaria Nº 697/2021 concedendo a aposentadoria compulsória ao professor Angel Rojas foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), em 15 de outubro. O Conselho Universitário (Conuni) fará uma homenagem ao docente durante a próxima reunião ordinária, que acontecerá nesta sexta-feira (29), a partir as 14h, e será transmitida pelo canal da TV Caatinga, no YouTube.

Natural de Cuba e nascido na cidade de Sancti Spíritus, capital da província de mesmo nome, Angel Rojas veio para o Brasil em 1997, já como engenheiro mecânico e professor universitário, para lecionar em Instituições de Ensino Superior. Até 1999, atuou como professor visitante na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde também foi professor substituto de 2001 a 2003. Além do Brasil, ele foi professor na Universidad Autónoma de Zacatecas, no México, e na Universidad Nacional de Ingenieria, na Nicarágua.

Primeiro filho de uma família com outras duas filhas, Rojas graduou-se em Engenharia Mecânica, em 1972, pela Universidad Central de las Villas, onde lecionou até 1995. Em 1982, fez doutorado em Produção por Fundição de Metais e Ligas Ferrosas, no Instituto Politécnico de Kiev, na Ucrânia. O pai era funcionário de uma fábrica de carnes embutidas e a mãe, dona de casa. No início da adolescência, Rojas presenciou a Revolução Cubana, em 1959, e acompanhou o início do governo de Fidel Castro.

À época, o jovem de cerca de 14 anos foi selecionado para trabalhar como operário numa fábrica de eletrodomésticos, participou de um treinamento na capital Havana e outro na antiga Tchecoslováquia, que em 1993 foi dividida em República Tcheca e Eslováquia. “Sempre tive ânsia de superação”, conta ele. Seu interesse por aprender o impeliu a buscar mais conhecimentos e logo ele ingressou num curso técnico noturno e, em seguida, na graduação em Engenharia Mecânica.

A Univasf entrou em sua história há 17 anos, quando a Instituição estava em fase de criação. Soube da nova Universidade por um colega da Ufes. Aprovado no primeiro concurso para a área de Materiais e Processos de Fabricação, ele foi o primeiro coordenador do curso de Engenharia Mecânica da Univasf e participou diretamente da elaboração do Projeto Pedagógico do Curso (PPC). Daquele início na Fundação Assistencial de Juazeiro (FacJu), sede inicial dos cursos de Engenharia e onde hoje funciona o Espaço Plural, muitas boas lembranças. Mas uma delas é especial. Rojas conta que foi durante uma reunião na Univasf, que ele foi informado do nascimento de sua filha Iara Paula, hoje com 17 anos, no Espírito Santo. A esposa Maria Aparecida do Nascimento de González estava grávida e precisou aguardar o nascimento da filha para se reunir ao marido, recém-empossado docente da Univasf. Pai de outros cinco filhos de uniões anteriores, Rojas também tem cinco netos e todos moram em Cuba.  

De natureza tranquila, o professor afirma que preza pelo respeito ao outro, especialmente na relação com os discentes. “Sempre dei abertura aos meus alunos para falar de qualquer coisa. Se você os respeita, é respeitado também”, diz. A impossibilidade de estar próximo aos discentes, no dia a dia da sala de aula, foi um dos aspectos que ele mais sentiu durante a pandemia de Covid-19. “O ensino remoto foi difícil, porque não sou de uma geração digital. Senti falta de caminhar entre as fileiras na sala”, relata em seu espanhol com toques de português. O apoio dos colegas do Cenmec foi essencial para vencer os desafios do ensino no meio virtual, nesse período pandêmico.

“Uma pessoa muito séria, responsável e excelente professor. Um exemplo a ser seguido”. É assim que o professor Nélson Cárdenas Olivier, também do Cenmec, define a personalidade do professor e amigo Angel Rojas. “O professor Angel teve um papel fundamental na elaboração do programa do curso, na montagem dos laboratórios e no que é o curso hoje”, conta Cárdenas, que foi aluno de Rojas ainda em Cuba e soube do concurso para a Univasf por intermédio do amigo.  

O engenheiro mecânico Thiago Víctor de Souza Álvares lembra bem dos primeiros anos do curso da Univasf. Ele contou com o apoio do professor Angel Rojas, na época coordenador do colegiado, para se adaptar e dar continuidade ao curso, que havia iniciado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Eu tinha um pouco de dificuldade de compreender o professor no início, porque ele falava espanhol, mas logo me acostumei. Quando paguei a disciplina de Tratamentos Térmicos com ele foi ótimo. Nós nos tornamos bons amigos. Ele tem uma longa caminhada na docência e é um excelente professor”, diz o egresso.

Sobre a compulsoriedade de sua aposentadoria, Rojas se mostra contrafeito. “Por mim, não teria parado. Eu me considero com todas as possibilidades de continuar contribuindo para a formação dos alunos”, conclui.

A aposentadoria de servidores  por idade é regulamentada pela Lei Complementar Nº 152/2015, que determina a aposentadoria compulsória dos agentes públicos aos 75 anos, com proventos proporcionais, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.