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Pesquisadores da Univasf descrevem nova molécula isolada de planta cultivada na região

publicado: 19/07/2021 11h00 última modificação: 19/07/2021 11h00
Renata Freitas

Atemoieira: nova molécula tem potencial de uso antitumoral. / Crédito das fotos: aquivo dos pesquisadores.

Uma nova molécula proveniente das folhas da atemoieira, planta originária de regiões tropicais do Peru, Equador e Colômbia e cultivada no Vale do São Francisco desde o final dos anos 1990, foi descoberta e descrita por pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). O trabalho com a descrição da molécula chamada “Desidroanomuricina N-óxido”, um derivado do alcaloide anomuricina, foi publicado pela revista alemã Zeitschrift für Naturforschung B, em junho último. O artigo também aponta uma possível aplicação dessa nova substância no tratamento de alguns tipos de câncer.

O artigo publicado pelo periódico alemão resulta da tese intitulada “Uso de técnicas hifenadas (CLAE-DAD/CL-EM) na identificação de metabólitos secundários de atemoia (Annona cherimola x Annona squamosa) e avaliação da atividade citotóxica”, de Suzana Vieira Rabêlo, defendida em fevereiro de 2019 pelo Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (Renorbio), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). O trabalho foi orientado pelo professor Jackson Guedes, do Colegiado de Farmácia e do Mestrado em Biociências da Univasf, além de membro do Renorbio.

A pesquisa foi desenvolvida no laboratório do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais (Neplame), no Campus Sede da Univasf, em Petrolina (PE). A nova molécula é um alcaloide benzilisoquinolínico N-óxido, que está presente nas folhas e nos pequenos galhos da planta. O professor Jackson Guedes explica que os alcaloides, substâncias produzidas por plantas que contêm um nitrogênio na sua estrutura, possuem diversas atividades biológicas, entre as quais ação antimalárica, analgésica, antimicrobiana, citotóxica e antitumoral.

Por este motivo, além de identificar a nova molécula, a pesquisa se deteve na análise do seu uso para o combate a células cancerígenas. A pesquisadora Suzana Rabêlo destaca que o trabalho teve como objetivo identificar moléculas que possam ser úteis no tratamento do câncer. “Esse artigo mostra como as folhas de atemoia são uma rica e promissora fonte de substâncias inéditas e potenciais a esse tratamento”, afirma Suzana.

O estudo utilizou diferentes técnicas para comprovar a estrutura da molécula descoberta. Os pesquisadores extraíram das folhas e dos pequenos galhos da planta a molécula “Desidroanomuricina N-óxido” e utilizaram as técnicas de cromatografia líquida de alta eficiência acoplada à espectrometria de massas (CL-EM), espectrometria de massas (EM) e ressonância magnética nuclear (RMN) para descrever sua estrutura com precisão. O material passou por diversas análises e testes em laboratórios de várias Instituições de Ensino Superior (IES).

Extratos e frações, como também o alcaloide anomuricina, foram testados frente a células de três tipos de câncer: leucemia, cólon do útero e glioblastoma. Os melhores resultados, após os testes em laboratório, foram constatados nas células de câncer do tipo glioblastoma, um tipo de tumor que afeta o cérebro. Houve uma inibição da ordem de 97,97% no crescimento dessas células cancerígenas.

O resultado do estudo é promissor, na avaliação dos pesquisadores. “No entanto é necessário que o material vegetal seja submetido a diferentes métodos e técnicas de extração e isolamento que devem ser realizados em laboratório, o que não garante que o consumo in natura da planta apresente qualquer relação com estes resultados”, esclarece Suzana Rabêlo.

O material analisado pelos pesquisadores foi coletado no Projeto de Irrigação Nilo Coelho, em Petrolina, e teve sua identificação botânica realizada pelo Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (Crad) da Univasf. Também participaram do estudo, realizado ao longo de dois anos, pesquisadores de diversas instituições do Brasil e do exterior, a exemplo das Universidades Federais do Paraná (UFPR), do Ceará (UFC), Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), do Amazonas (UFAM) e da Abdel Malek Essaâdi University, no Marrocos, entre outras.

“Este foi um trabalho realizado com muitas parcerias e é uma demonstração da importância da pesquisa científica no Brasil e de como ela é o caminho que pode nos levar a grandes descobertas”, conclui a pesquisadora Suzana Rabêlo, química formada pelo Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF SertãoPE), que é egressa do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Semiárido, atual Programa de Pós-Graduação em Biociências da Univasf.

O professor Jackson Guedes diz que os estudos sobre as propriedades da atemoia continuam em andamento no Neplame. Uma das pesquisas, que está iniciando e será realizada no âmbito do Doutorado em Ciências Veterinárias no Semiárido, deverá analisar os possíveis efeitos do óleo essencial extraído das folhas da atemoia para fins veterinários. Outro trabalho desenvolvido no Mestrado em Biociências estudará os efeitos do óleo essencial em modelos de dor associada ao câncer.