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Pesquisadores da Univasf e Unicamp desenvolvem dispositivo que identifica atributos e ponto de maturação de uvas viníferas

publicado: 04/03/2021 14h49 última modificação: 04/03/2021 14h49
Renata Freitas

Características e ponto de maturação da uva são alguns dos fatores decisivos para elaborar vinho de qualidade. 

Um dos desafios da produção de uvas viníferas é identificar as características da fruta e o ponto de maturação para colheita com o objetivo de obter frutas de alta qualidade que resultem na elaboração de vinhos finos também de qualidade. Essa análise é feita com a colheita de cachos de uva que são levados para teste em laboratório, ocasionando perda de frutos, insumos e tempo. Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveu um equipamento que permite a identificação do estágio de amadurecimento e os atributos de qualidade das uvas, em tempo real e sem danificá-las, tornando esse processo mais simples e rápido.

Basta aproximar o dispositivo ao cacho ou à baga de uva, que por meio da emissão de sinais ópticos o equipamento registra as quantidades de açúcar e de compostos fenólicos presentes na fruta, com base nas quais é possível saber se está na época apropriada para a colheita. O equipamento foi desenvolvido pelos professores da Univasf Daniel dos Santos Costa, do Colegiado de Engenharia Agrícola e Ambiental (Cenamb), e Rodrigo Pereira Ramos, do Colegiado de Engenharia Elétrica (Cenel), em parceria com a professora Bárbara Janet Teruel Medeiros, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, como resultado do projeto de pesquisa “Desenvolvimento de protótipo optoeletrônico para determinação não-destrutiva dos atributos de qualidade e estágio de amadurecimento em uvas viníferas”, realizado entre 2015 e 2018.

Trata-se de um dispositivo portátil com um sistema optoeletrônico, que foi criado também com o objetivo de suprir uma lacuna no mercado nacional e contribuir com a indústria vitivinícola do país. “Não existe um equipamento nacional que tenha essa função. Todos os equipamentos que existem são importados”, explica o professor Daniel Costa. O protótipo obteve o depósito de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) pela Agência de Inovação (Inova) da Unicamp, em meados de 2020, tendo a Univasf como cotitular.

Protótipo em processo de registro de patente: atributos e ponto de maturação da uva na palma da mão. / Foto: Arquivo do pesquisador.

Durante a fase de testes, o equipamento foi utilizado em uvas viníferas das variedades Syrah e Cabernet Sauvignon, cultivadas numa vinícola do Vale do São Francisco. Os testes apontaram uma precisão de 90% para a identificação de açúcares e de 87% para os compostos fenólicos presentes nas frutas, com uma margem de erro de 10% para os primeiros e 13% para os compostos fenólicos. Costa ressalta que o equipamento é uma ferramenta escalonável, isto é, pode ser ajustado para fazer a medição dos atributos de outras culturas, podendo beneficiar toda a cadeia da fruticultura.

“Trabalhamos com a uva vinífera em virtude da grande importância socioeconômica do Vale do São Francisco na produção de vinhos finos. A região tem um terroir, cujas características edafoclimáticas conferem à uva produzida aqui características ímpares para a elaboração de vinhos finos e possibilitam, juntamente com a irrigação, duas safras e meia por ano de uvas viníferas”, destaca o docente.

O estudo envolveu a identificação de comprimentos de ondas relacionadas aos açúcares e compostos fenólicos, por meio de espectroscopia VIS-NIR (Visible-Near Infrared), que significa luz visível e infravermelho próximo, com o objetivo de selecionar as fontes emissoras de luz para compor o dispositivo. Os pesquisadores também estabeleceram modelos matemáticos com diferentes técnicas de modelagem quimiométrica para a confecção do equipamento.

“O dispositivo é de grande importância por contribuir também para a preservação ambiental, pois sua utilização, além de possibilitar a medição em tempo real dos atributos da fruta, dispensa o uso de insumos e reagentes químicos em laboratório para analisar as características da uva. Essas substâncias químicas acabam retornando para o meio ambiente no momento do descarte, causando danos. O equipamento que desenvolvemos apresenta a solução para esse problema”, relata Costa.

Além disso, o uso do dispositivo permite ao produtor adotar a colheita seletiva, colhendo apenas as frutas que de fato estiverem no ponto de amadurecimento ideal. “A colheita de frutas não-maduras resulta na diminuição da qualidade do produto final. Na Europa e em outras grandes regiões viníferas, a colheita seletiva é largamente utilizada para a elaboração de vinhos de qualidade superior. Essa prática só agrega valor ao produto”, conclui o pesquisador.   

O projeto de pesquisa que deu origem à criação do protótipo também contou com a participação de outros pesquisadores da Univasf, da Unicamp e da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Os resultados do projeto foram publicados em três periódicos: Journal of the Science of Food and Agriculture (2020), Computer and Electronics in Agriculture (2020) e Postharvest Biology and Technology (2019).