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Pesquisa da Univasf mostra impactos de fenômenos da natureza na Serra da Capivara nos últimos 100 mil anos

publicado: 10/05/2023 13h51 última modificação: 10/05/2023 13h53
Renata Freitas

Fenômenos climáticos diversos, como grandes volumes chuvosos e muitas oscilações de temperatura, ocorridos ao longo dos últimos 100 mil anos, afetaram a paisagem na região da Serra da Capivara, no Piauí. As características atuais de relevo e vegetação da região são resultado desses fenômenos da natureza relatados em um estudo desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e de outras Instituições de Ensino Superior do Brasil e do exterior. A pesquisa foi publicada recentemente no periódico Catena, um dos principais jornais de Ciência do Solo e Geociências, da Elsevier.

O artigo “Relict soil features in cave sediments record periods of wet climate and dense vegetation over the last 100 kyr in a present-day semiarid region of northeast Brazil” (Características relíquias do solo em sedimentos de caverna registram períodos de clima úmido e vegetação densa nos últimos 100 mil anos em uma atual região semiárida do Nordeste do Brasil) contém dados que contribuem para a compreensão de mudanças ambientais que afetaram essa região do Nordeste. O trabalho é fruto de um projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Edital Universal, de 2018; pela Fundação de Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), por meio do edital Jovem Pesquisador.

De acordo com o professor do Colegiado de Geografia (CGEO) da Univasf Daniel Vieira de Sousa, que coordenou o estudo, o trabalho traz novas contribuições que possibilitam entender o impacto das mudanças climáticas globais ocorridas durante o quaternário na região semiárida. “Demonstramos que eventos climáticos globais associados a descargas de Icebergs no Atlântico Norte influenciaram fortemente a dinâmica da paisagem, alterando, por exemplo, a gênese de solos e a dinâmica da vegetação”, explica o pesquisador.

Ele relata que, entre outros aspectos, o estudo demonstra que a vegetação naquela região já teve um porte de savana, possivelmente com características semelhantes às do cerrado. Após passar por picos de chuva intensa, a vegetação na região se tornou mais densa e houve o surgimento de florestas de caráter tropical úmido. Os pesquisadores analisaram dados geoquímicos, mineralógicos, de micromorfologia do solo e paleontológicos para aprofundar os conhecimentos sobre o intemperismo, a pedogênese (processo de formação dos solos) e a história da vegetação no Nordeste brasileiro nos últimos 100 mil anos.

Achados semelhantes sobre a influência de eventos climáticos globais já foram encontrados em outras localidades do semiárido nordestino. Os pesquisadores sugerem a realização de novos estudos que possibilitem aprofundar ainda mais os conhecimentos acerca dos impactos das mudanças climáticas passadas da formação natural da região.